sexta-feira, 24 de março de 2017

15 ANOS DE MISMECDF - MARÇO 2017 - VÍDEO



Hoje, no dia internacional da Mulher, celebramos 15 anos!
Para todas as mulheres #NenhumDireitoAMenos!
Parabéns para todos nós, homens e mulheres que fazemos o MISMEC-DF! Que continuemos juntos com respeito e Amor na construção de redes solidárias e de cidadania!

quinta-feira, 23 de março de 2017

MISMECDF & Jovem de Expressão, parceria renovada!

 
 
 
 

WORKSHOP CUIDANDO DO CUIDADOR NAS RELAÇÕES EM AMBIENTES DE TRABALHO



15 ANOS DE INSTITUIÇÃO - MISMECDF



Março é mês de celebração! O MISMEC-DF no dia 08 celebra 15 anos de nascimento!
São 15 anos de implantação da Terapia Comunitária Integrativa no Distrito Federal! São 15 anos de uma linda caminhada!
Agradecemos com muito amor a todos nossos fundadores, amigos e amigas, terapeutas comunitários, participantes das diretorias que deram e dão sua contribuição e que nos acompanham nessa jornada e juntos possamos continuar contribuindo "para a construção de redes solidárias que promovam o fortalecimento da cidadania ativa e autonomia de pessoas e comunidades”.
 
ALGUNS DEPOIMENTOS:
 
- MISMEC-DF 15 anos de AMOR! E aquilo que não é AMOR, é um pedido de AMOR. Parabéns a todos que fazem o MISMEC-DF! (Áurea Briseno)
- "Há 14 anos conheci o MISMEC-DF e, através dele, a Terapia Comunitária Integrativa. Com a TCI aprendi que poderia sarar as minhas dores quando falasse sobre elas e acolhesse, com o coração, a dor do outro. Com o MISMEC-DF aprendi a importância da rede de cuidado, solidariedade e apoio no desenvolvimento da saúde pessoal e comunitária. Parabéns MISMEC-DF por esses 15 anos de difusão da TCI no DF e por fazer parte dessa teia solidária de Polos Formadores EM TCI, da ABRATECOM! Que sua missão seja sempre a de acolher, cuidar e incentivar a liberdade pessoal e coletiva. Com admiração e gratidão! " (Perlucy Santos) 
- "Nestes anos enquanto Mismequiana aprendí 'que vida de terapeuta é tecer felicidade'. Parabéns pelos seus 15 anos Mismec Df! ( Nair Meneses)
- Parabéns ao Mismecdf pelos seus 15 anos de dedicação à comunidade, de forma consciente, profissional e muito humana. O Mismecdf deixa um exemplo a todos segmentos que atendem as comunidades carentes.  Que esse trabalho continue sempre. Abraços! (Fernando José Gramaccini, Coordenador do Movimento Pedagogia das Virtudes)
- Que lindo tempo de festa.  Completar 15 anos é um momento especial, inesquecível e repleto de alegrias. Parabéns MISMEC/DF por essa data graciosa.
O polo formador CEFCOM/CIRANDA SOCIAL agradece as belas páginas de acolhimento, partilhas e ações na direção da valorização da vida registradas no universo durante essa trajetória de 15 anos. E deseja a todos felicidades, sucesso, saúde e muito amor, hoje e sempre.
Valeu Grande Grupo!  Abraços Solidários!  Equipe CEFCOM/ CIRANDA SOCIAL
- "A Terapia Comunitária me foi propulsora de um encontro generoso comigo mesma e com as outras pessoas. Fomentou uma rede de cuidado, estimulou o autocuidado, uma troca energética. Diria que foi um ressignificar coletivo de experiências individuais. A sensação das rodas: Quando olho a outra me vejo e da mesma forma, quando me olho posso ver a outra. Entendo que para utiliza-la como ferramenta de trabalho em grupo precisamos mais do que a técnica. Requer que saibamos ver as pessoas em toda sua diversidade e adversidade, com afeto, respeito, igualdade e criatividade. As dores, sofrimentos, angústias compartilhadas nas rodas são vivenciadas como possibilidades de crescimento e ineditismo. Parabenizo o Mismecdf pela trabalho amoroso de formação e divulgação dessa metodologia." (Ádila - NAFAVD/Sedestmidh)
- "Felicito o Mismecdf pelos 15 anos de atuação no DF. Conheci a TCI em 2014 durante uma visita a uma roda no Bairro Bom Jardim em Fortaleza e fiquei encantada com a força e ao mesmo tempo ternura dessa terapia. Voltando a Brasília procurei e logo achei o Polo Mismec Df. Sou da Turma XX e acredito fortemente na potencialidade da TCI como prática e como matéria na minha prática docente na UnB. Que sempre contiue MismecDF a luz e a leveza que traz na vida das pessoas." (Muna Muhammad Odeh - Professora de Saúde Coletiva na Universidade de Brasília)
- "MISMEC-DF, feliz aniversário!!! Vocês são 10! Dez em integridade, compromisso, competência, sabedoria, lindeza!!! Gratidão enorme pela convivência tão acolhedora e por tanto que aprendi com vocês."(Guacira Oliveira)
- "Parabéns, MISMECDF!!!
A TERAPIA COMUNITÁRIA me ensinou a olhar o próximo com os olhos de DEUS.
É só gratidão pelo MISMECDF e pela honrosa missão a mim conferida.
TAMOJUNTO !!!!" (Fátima Neri)
- "Muita coisa mudou em minha vida após o curso de TCI. MISMEC-DF, me forneceu as asas que eu precisava para voar...Total mudança em minha vida. Quero gravar um vídeo em agradecimento à vocês. Continue neste propósito de crescimento das pessoas. Gratidão!" (Rita Gomes)
- "Queridxs amigxs de MISMECDF, paz y bien!
Como Polo Muyumpa, nos sentimos honrados por el apoyo que hemos recibido de ustedes, la calidad humana y técnica de las personas que nos han acompañado han sido fuente de inspiración constante para nuestro trabajo, de corazón les agradecemos y felicitamos.
Gracias por ser nuestro polo padrino.  Abrazos solidarios."  Eluzinete Pereira y Eduardo Campaña
Polo Muyumpa Terapia Comunitaria - Quito -Ec
- Ao MISMEC-DF e a todos os seus integrantes que fazem parte desses 15 anos de colaboratica construção humana, deixo o meu muito obrigada! Também com a palavra GRATIDÃO, quero dizer do acolhimento, dedicação e cuidado que, espontaneamente, recebi de seus formadores.
Para mim, o MISMEC-DF é causa e efeito do amor humano compartilhado.
Parabéns MISMEC-DF pelos seus 15 anos de história! Espaço que acolhe e promove o compartilhar das experiências do humano. (Andria Maria Catho Menin)
- MISMECDF, Parabéns pelos 15 anos de presença no DF!!
Os Correios conheceu a Terapia Comunitária Integrativa em 2005, e alinhou esta proposta aos seus programas corporativos de saúde e qualidade de vida para atendimento aos empregados e familiares, proporcionando um espaço de fala e escuta qualificada, por acreditar que a saúde e o bem-estar dos trabalhadores são focos que se estendem além dos limites de uma Organização.
Nossa gratidão ao MISMECDF pela presença marcante em facilitar e apoiar a TCI nos Correios, permitindo a perenidade nos últimos 11 anos de nossas valorosas “Rodas de Fala”.
(Dulcicleide de Araújo Melo – assistente social e terapeuta comunitária) Dulci Melo
- "A História do MISC-Minas, surgiu por um sim, da Dra. Henriqueta, juntamente com o Dr. Adalberto Barreto, em ministrar um Curso de Terapia Comunitária Integrativa, em Ipatinga-MG, em 2004.
O MISMEC-DF foi o padrinho e contribuiu para que a TCI, seguisse o seu rumo e se consolidasse em Minas Gerais. Podemos afirmar que seguimos o exemplo desse Polo Formador, de disponibilidade e de vontade de que a TCI fosse reconhecida.
Hoje temos Terapeutas Comunitários em mais de 100 cidades do Estado, formados pelo MISC Minas.
A todos aqueles que fizeram parte da historia do MISMEC/DF nosso agradecimento. Especialmente: Dra. Henriqueta, Mauro Mendonça, Mariano Pedroza, Perlucy, Ana Maria, Helenice, Doralice e Nair, que foram as profissionais com quem tivemos mais contato.
Parabéns, pelo 15 anos de trabalho!"
Marlene Rodrigues e José Galvão - Diretoria do MISC Minas

- MISMECDF 15 anos cumprindo sua missão de formar cuidadores: pessoas que distribuem o bálsamo transformador das lágrimas em pérolas preciosas e a dor em luz que ilumina os compartimentos mais profundos da alma com as cores da esperança e da alegria de viver. Parabéns a toda a equipe e profunda gratidão pelo carinho com que nos acolhe. (Nilce Rodrigues Camarão - Educadora Popular e Terapeuta Comunitária)
 
 
 
 

ACOLHIMENTO NA TERAPIA COMUNITÁRIA INTEGRATIVA - Maria Henriqueta Camarotti - Nicole Hugon


 
ACOLHIMENTO NA TERAPIA COMUNITÁRIA INTEGRATIVA
 Maria Henriqueta Camarotti[1] - Nicole Hugon[2] 

A Roda da Terapia Comunitária Integrativa (TCI) começa com a fase do Acolhimento. Todos sentados em círculo, numa relação horizontalizada, terapeutas e participantes, se preparam para viver esse momento. No início o terapeuta comunitário explica, em poucas palavras, o que é a TCI, expõe as regras e comemoram aniversários e datas importantes para os integrantes do grupo (CAMAROTTI e GOMES, 2009).

Falar de acolhimento seria falar da Terapia Comunitária como um todo, pois em cada fase e ritual vivenciado na Roda existem elementos de acolhimento, de suporte e de escuta. De fato, esta metodologia nasceu do acolhimento que os irmãos Barreto, Airton e Adalberto, se propuseram a fazer com as pessoas da Favela do Pirambu/Fortaleza, Ceará (BARRETO, 2007). No nascedouro dessa abordagem, emergiam espontaneamente vivências práticas de acolhimento[3], recepção, abrigo; sintonia perfeita com o desdobramento da metodologia utilizada, posteriormente denominada por Adalberto Barreto de Terapia Comunitária.

Para iniciar nossa reflexão sobre o Acolhimento, chamamos atenção para o significado de gesto e linguagem, expressões tão importantes nas relações humanas. Há que se harmonizar essas duas ações de forma que o ato de acolher seja percebido como falas e atitudes genuinamente expressadas pelos terapeutas comunitários no momento da Roda. O acolhimento é sentido e recebido como tal quando é realizado por uma pessoa que está se auto-acolhendo nas suas várias dimensões e realidades.

O terapeuta comunitário, para poder acolher o outro, deve começar a acolher a si mesmo nas suas múltiplas identidades; é nesta capacidade de se acolher que nasce a possibilidade de uma sintonia entre a postura, o gesto e a palavra, permitindo assim um acolhimento autêntico e realmente caloroso, pleno de verdadeira atenção por si mesmo no encontro com o outro.

 
Nesse sentido relembramos o conceito do filósofo Martin Heidegger[4], quando fala que o acolhimento do outro, quando na vigência de um autoacolhimento, se torna uma doação do ser e do tempo, verdadeiramente. Essa via de mão dupla de quem acolhe e de quem é acolhido, de quem fala e de quem escuta, forma um verdadeiro encontro, revelado numa dimensão fenomenológica mais íntima e menos coisificante. Carmem Lúcia Barreto (2008) complementa essa reflexão e afirma que na dimensão heideggeriana, a experiência consiste em ser “afetado” e “transformado” num encontro com o outro na sua alteridade, um acontecimento dramático que supõe o estar instalado num mundo como horizonte de encontros. Esse “horizonte, ao mesmo tempo, abre-se para transformações e resiste e se opõe a qualquer captura pelo outro”.

Portanto, o que se mostra mais importante prá nós é entender o acolhimento não como uma captura da alma do outro, e sim um processo de libertação desse outro, estimulando-o a assumir o leme de sua vida e direcionando-o para fazer suas escolhas. Em resumo, o Acolhimento na Terapia Comunitária é o ato de fortalecimento do grupo para entregar-se a si mesmo, empoderando-o na sua capacidade de decisão e busca do autoconhecimento. 

Para enriquecer este texto sobre o Acolhimento na TCI, gostaria de incluir as pertinentes reflexões do filósofo Martin Buber[5]. Este pensador, de origem judia, contribuiu, através do caminho da Filosofia do Encontro e do Diálogo, para entendermos as relações humanas como necessariamente uma reciprocidade dialógica, onde tudo se passa no “entre”, na relação entre os interlocutores. Segundo Buber, existem duas formas do homem se aproximar do mundo: colocando-se face a face na relação EU-TU, ou então, numa relação coisificante, denominada por ele de EU-ISSO.

A proposta da Terapia Comunitária e, sobretudo, do acolhimento que ela carreia, segundo nossa visão, está centrada numa relação EU-TU, significando uma relação inter-humana – termo utilizado por Buber – em tudo aquilo que ocorre na realização de uma Roda. Nessa relação caracterizada como inter-humana, quando alguém se expressa, falando de sua dor e de seu sofrimento, todos os demais se tornam cúmplices da história do outro, se revelando também parceiros na busca de soluções.

Os sentimentos, nós os possuímos, o amor acontece. Os sentimentos residem no homem mas o homem habita em seu amor. Isto não é simples metáfora mas a realidade. O amor não está ligado ao EU de tal modo que o TU fosse considerado um conteúdo, um objeto: ele se realiza, entre o EU e o TU”. (BUBER, 2001, p.17 In GOMES, 2009/2010).

Importante frisar que para que o Acolhimento aconteça da forma como propõe a TCI necessário se faz respeitar e introjetar as regras do não julgar, não fazer discurso, não fazer sermão; pois, o julgamento do outro nos afasta inexoravelmente desse outro e inviabiliza uma relação na forma de EU-TU como concebida por Buber. A pessoa que julga transforma o outro em coisa, fazendo acontecer então uma relação EU-ISSO.

Finalmente podemos afirmar que para que o Acolhimento se torne um fenômeno de amor, numa concepção buberiana, há que se desenvolver entre os participantes da Roda uma relação sem julgamentos e sem a priori. Este é nosso objetivo e nosso sonho como terapeutas comunitários!

A fase do Acolhimento é um momento fundamental na Roda de TCI no sentido de promover a integração do grupo e a abertura de espírito para a participação da sessão. Concordamos com Maria das Graças Martini (2011) quando diz que “O sucesso da Terapia Comunitária começa com o trabalho do co-terapeuta que realiza o acolhimento que, quando bem feito, envolve os participantes numa energia de amorosidade e harmonia, deixando-os a vontade, acolhidos e em sintonia com o clima da Terapia”.

A integração na Roda se começa pelas atitudes: todos em circulo, numa posição de igualdade e direitos, na maneira de se sentar, de deixar o espaço aberto para novos participantes (mesmo que cheguem atrasados). Contrariamente às situações de verticalidade, que impõe às pessoas certo constrangimento, a Roda de TCI autoriza todas as formas de expressão; deixa as portas e janelas abertas para se chegar e sair a qualquer momento e vontade.

 A fala explicativa e amorosa sobre a Roda que irá acontecer, provoca muito conforto para as pessoas por saber antecipadamente o sentido do encontro. Além disso, as dinâmicas de aquecimento realizadas para aquecer e integrar o grupo é uma forma mágica de gerar foco e acuidade através de estímulo ao movimento e à expressão corporal. Os terapeutas comunitários franceses percebem o Acolhimento como o momento de “briser la glace”[6], onde os participantes relaxam e se entregam para viver aquela experiência.

Na Terapia Comunitária vemos que a fase do Acolhimento é o momento em que as pessoas são recebidas, integradas ao grupo, tranquilizadas de suas preocupações e ansiedades. Por ser uma metodologia com etapas precisas e sequenciais, as explicações iniciais tranquilizam os participantes e evitam o desencadeiamento de ansiedades ou outros sintomas ligados ao momento de expectativas. Em todas as etapas seguintes, os animadores anunciam os procedimentos propostos e reforçam sempre a Roda como um espaço aberto para falar ou não falar, se expressar da maneira como cada um consegue ou deseja.  Assim, o facilitador confiante na metodologia, pode superar o medo das falas soltas ou de que as "interpretações grosseiras" causem reações emocionais ou descompensações dos participantes. O acolhimento promove ao grupo um espaço de fala seguro e envolvente

Fazendo uma imagem desse momento, poderíamos considerar a Roda de Terapia como o momento onde “eu aqui posso soltar as armas e relaxar”, “aqui eu posso ser eu mesmo”.  Neste momento os participantes entram numa viagem, anunciada e preparada pelo “piloto” para que o encontro se desenvolva o mais harmonicamente possível: “Atenção senhoras e senhores vamos nos preparar para que o vôo seja confortável e amoroso...”

Consideramos a Terapia Comunitária Integrativa como uma metodologia lógica, concatenada, onde todas as fases têm sua importância em si e no conjunto. Seguindo essa concatenação, consideramos que o Acolhimento tenha os seguintes objetivos:

1-   Criar um espaço circular de fala e de escuta;

2-   Dar boas vindas a todos que vieram participar da Roda;

3-   Tranqüilizar as pessoas quanto ao processo da TCI que vai se desenrolar;

4-   Apresentar as regras da metodologia da TCI para os participantes;

5-   Promover a inclusão e estimulo da autoestima quando nas boasvindas, esclarecimentos e comemoração dos aniversariantes e das datas importantes;

6-   Promover relaxamento e segurança nas pessoas com as informações dadas e com as dinâmicas de integração;

7-   Integrar o grupo, tornando-o mais próximo, mais afetivo e lúdico.

Didaticamente, podemos dividir a Fase de Acolhimento em dois momentos: 1- Boasvindas e esclarecimentos e as 2- dinâmicas interativas.

Na primeira fase das boasvindas e esclarecimentos se torna fundamental a postura e o centramento do terapeuta comunitário. Esta postura segura e tranquila do terapeuta, baseada na precisão das regras e da metodologia, e muitas vezes na parceria dos coterapeutas, tem um papel muito importante, pois, oferece proteção aos participantes e proporciona que o grupo se autoregule.  É o momento em que as pessoas precisam assegurar-se que estão protegidas e seguras para se entregar àquela experiência. Normalmente elas trazem sentimentos e expectativas muito fortes e, às vezes turbulentas, para a Roda; são pessoas que estão vivendo dificuldades extremas na busca da sobrevivência, e, o Acolhimento é o momento de buscar apaziguar um pouco a mente para possa abrir-se para novas informações e experiências. É um hiato providencial no burburinho do cotidiano.

Muito importante sublinhar o trabalho realizado sobre os terapeutas comunitários durante sua formação, de forma a deixá-los tranqüilos, seguros e confiantes, pelos recursos da metodologia (regras etc) e pela confiança na capacidade de autorregulação do grupo. Nós terapeutas tendemos a perceber o grupo como uma força harmônica, onde podemos contar com ela durante todo percurso da Roda.

As dinâmicas interativas ou de aquecimento são oportunidades de romper com o fechamento natural de quem chega a um ambiente estanho, de forma a integrar o grupo num nível de horizontalidade harmoniosa e calorosa. Aconselha-se utilizar dinâmicas curtas (3 a 5 minutos no máximo), leves, alegres e adequadas a cada tipo ou idade dos participantes. Muito importante observar a cultura de cada grupo e utilizar dinâmicas advindas da história de vida, das vivências infantis ou mesmo do arcabouço cultural das pessoas.

A comemoração dos aniversários, festas, realizações e das boas notícias tem uma grande relevância neste momento de celebração da vida, antes de abordar o sofrimento, dirigindo a atenção para a possibilidade de superar dificuldades. É uma respiração de vida e bem-estar, acalmando os receios dos participantes, lembrando-nos que "após a tempestade vem a bonança", que a vida é feita também de momentos felizes. Ela também representa a aceitação de cada um pelo grupo.

Nesse primeiro momento da Roda, na fase do Acolhimento, é acionado o ponto de partida de um “fio” que vai se desenrolando até o final. Os terapeutas explicitam então que a Roda de TCI é um continuum, onde tudo faz sentido e tem uma função no contexto. Muito importante que o terapeuta expresse que a metodologia da TCI tem um começo, um meio e um fim. Claro que não é necessário nomear neste momento todas as fases vindouras, mas, os animadores da Roda transmitirão aos participantes a compreensão de que cada momento se completará com os seguintes. 

Como devem ser a fala e a postura do terapeuta nesse momento? A seguir listamos algumas sugestões para a postura do terapeuta:

1-   Atitude simpática, aberta, compreensiva e ao mesmo tempo firme nas suas colocações;

2-   Atitude corporal também de abertura, bem posicionado, olhando para todos nos olhos com suavidade, assumindo uma posição na Roda onde possa visualizar a maior parte possível do grupo;

3-   O discurso deve ser sintético, falando do essencial, daquilo que vai ser fundamental na seqüência da Roda. Falar num tom de voz suave, claro e numa altura possível de ser escutado por todo grupo;

4-   Cuidar para que não se interrompa a seqüência metodológica da Roda, sobretudo quando acontecem falas longas e fora do que é solicitado no momento;

5-   Saber cortar as falas ou discursos de forma suave e firme. Muito importante que o terapeuta esclareça que durante a Roda a pessoa poderá falar de suas dores e sofrimento e também ser escutada com carinho;

6-   A equipe de terapeutas comunitários deve ficar atenta a todo grupo, além de acompanhar as pessoas que estão se expondo naquele momento.

Entendemos que um Acolhimento afetuoso possibilita o grupo a ficar confiante e predisposto a participar da melhor forma possível da Roda da Terapia Comunitária. Esta convicção precisa ser transmitida durante a formação, assim como é nos encontros dos Módulos e das Intervisões que os terapeutas comunitários vão se preparando para acolher as pessoas no seu sofrimento, nas suas alegrias, nas suas peculiaridades e diferentes naturezas humanas.

Podemos concluir essa reflexão dizendo que se tivéssemos uma palavra para resumir toda a formação de Terapia Comunitária essa palavra seria Acolhimento. 

Bibliografia

BARRETO, A. P. Terapia Comunitária passo a passo. Fortaleza. 2007
BARRETO, J. A. P. Direitos Humanos e cidadania na favela. In: GRANDESSO, M. e BARRETO, M. R. Terapia Comunitária: Tecendo Redes para a transformação Social, Saúde, Educação e Políticas Públicas. São Paulo: Casa do Psicólogo. 2007.

BARRETO, C. L. B. T. Uma possível compreensão fenomenológia existencial da clínica psicológica. Postado em 2008 http://www.lefeusp.net/arquivos_diversos/VIII_simposio_anpepp/textos%20pesquisadores/barreto08.pdf Postado em 2008. Pesquisado em 2012.
BUBER, M. Eu e Tu. São Paulo: Centauro Editora. 2012.

CAMAROTTI, M. H. e GOMES, D. O. Terapia Comunitária: a circularidade nas relações sociais. IN: OSORIO, L.C. e VALLE, M. E. P. Manual de Terapia Familiar. Porto Alegre: Artmed. 2009.
FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira. 1986.

GOMES, P. B. A Filosofia do Relacionamento. Ano III - Nº VI- Out 2009/Jan2010 -http://www.cidadesp.edu.br/old/mestrado_educacao/artigos/egressos/2009/a_filosofia_do_relacionamento.pdf
LELOUP, J. Y. Cuidar do Ser: Filon e os Terapeutas de Alexandria.  6ª Ed.Petrópolis: Editora Vozes. 2001.

MARTINI, M.G.P. Mote: a alma da terapia comunitária Pesquisado em 28 de dezembro de 2011 http://www.abratecom.org.br/publicacoes/cientificos/artigo10.asp




[1] Neurologista, psiquiatra, mestre em psicologia, Gestalt Terapeuta, terapeuta comunitária e formadora dessa metodologia.


[2] Gastroenterologista, especialista em alcoolismo, terapeuta comunitária e formadora da TCI em Marselha - França


[3] A palavra acolhimento significa recepção, atenção, consideração, refugio, abrigo, agasalho (FERREIRA, 1986
 


[4] Martin Heidegger, filósofo alemão, é um dos pensadores mais importante do século 20. Esse pensador considerava o seu método como fenomenológico e hermenêutico. Sua proposta fundamental foi por em evidência o que está na maioria das vezes oculto nas coisas.


[5] Filósofo, escritor e pedagogo de origem judaica, nascido, no final do século XIX, em Viena, Áustria. Centrou sua obra na Filosofia do Diálogo. Publicou as seguintes obras: Eu e Tu, Sobre a Comunidade, Eclipse de Deus e Lenda do Baal Schem, A.
 


[6]  Quebrar o gelo
 

COMO CONCILIAR O PARADIGMA DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO CLÁSSICO E A VISÃO PÓS MODERNA DA INVESTIGAÇÃO NA TCI?


PESQUISA EM TERAPIA COMUNITÁRIA INTEGRATIVA:
COMO CONCILIAR O PARADIGMA DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO CLÁSSICO E A VISÃO PÓS MODERNA DA INVESTIGAÇÃO NA TERAPIA COMUNITÁRIA INTEGRATIVA ?
POR: Maria Henriqueta Camarotti[1] - Nicole Hugon[2] - MISMECDF [3]

1-INTRODUÇÃO 

    “A Terapia Comunitária Integrativa – TCI – surgiu da conciliação do conhecimento científico e do conhecimento popular”. Esta frase é sempre muito citada entre os terapeutas comunitários e representa uma crença lapidar sobre a visão includente da metodologia da TCI.  Neste trabalho, a questão fundamental está relacionada aos limites e possibilidades dessa afirmativa, como ela acontece, quais suas interseções, e de alguma forma, as dúvidas suscitadas sobre essa afirmativa. Outra questão importante é qual seria a melhor forma de realizar pesquisas para compreender a TCI e suas ações e como poderia integrar a ação do terapeuta com uma visão de pesquisador e elaborador de conhecimento.
      Nas rodas de TCI, em tantos lugares do Brasil e agora em outros continentes, as pessoas se encontram para compartilhar, além das suas experiências de vida, seus conhecimentos e culturas diversas: crenças religiosas, opções filosóficas, saberes tradicionais, bem como saberes universitários, em medicina, psicologia sociologia e outros. São buscas de  superação conjunta dos desafios cotidianos, dos problemas encontrados na própria vida. Para responder a esse desafio, a TCI propõe um dispositivo bem delimitado, com regras, metodologia precisa, formando por isso uma ferramenta única de conhecimento e ação nos espaços onde ela atua.
      Desde o seu nascimento, muitos trabalhos foram produzidos para enriquecer, socializar as descobertas nascidas deste movimento, nos campos da promoção da saúde e da construção do tecido social.
         Para clarear estas questões, inicialmente, serão apresentados alguns conceitos freqüentemente citados nos textos sobre a TCI, tais como: conhecimento popular (empírico, vulgar ou senso comum), religioso, filosófico e científico. Depois discutiremos sobre as diversas modalidades de pesquisa e como a TCI contribui e se relaciona com elas. 
2- FORMAS DE CONHECIMENTO

         Na literatura encontramos várias classificações do conhecimento. Neste texto vamos nos ater às seguintes modalidades: empírico ou popular, religioso, filosófico e científico.

ñ    Conhecimento empírico, vulgar ou saber popular:
         É a forma de conhecimento do tradicional (herdado ou aprendido), da cultura, do senso comum, sem compromisso com uma apuração ou análise metodológica. Não pressupõe reflexão; é uma forma de apreensão passiva, acrítica e que, além de subjetiva, é superficial. São exemplos desse conhecimento: tradições, ditados populares, culinária, tradição oral, rezadeiras, folclore, etc.

         Neste modo de conhecimento percebe-se reflexão, inteligência prática, experimentação para melhorar os saberes e fazeres, incluir novos recursos, etc. Apresenta também uma transmissão no aprendizado aos demais, como por exemplo, no artesanato, na transmissão oral de receitas, crenças, histórias, etc. Neste modo de saber, pode-se dizer que não existe generalizações, o saber geralmente permanece local e vem passando de geração a geração.

ñ    Conhecimento religioso ou teológico:   

         É o saber revelado pela fé divina ou caminho religioso. Está ligado diretamente as crenças de cada indivíduo e depende da formação e dogmas religiosos. São inúmeros exemplos representativos desse conhecimento: vida após a morte, ressurreição no juízo final, existência dos espíritos, reencarnação, etc.
 

ñ    Conhecimento filosófico:

         É fruto do raciocínio e da reflexão humana. É o conhecimento especulativo sobre os fenômenos, gerando conceitos racionais e  subjetivos. Essa reflexão busca dar sentido aos fenômenos gerais do universo, ultrapassando os limites formais da ciência ou mesmo antecipando-os. Por exemplo, os filósofos pré socráticos discutiam a origem e estrutura do universo muito antes das descobertas atuais da ciência. Sobre esta forma de conhecimento, podemos citar: conceitos sobre o bem, o belo, o justo, lógica, ética, epistemologia da ciência.

 
ñ    Conhecimento científico:

         É o conhecimento racional, sistemático, exato e verificável da realidade. Se baseia nos procedimentos de verificação da metodologia científica. Segundo Galliano (1979) esse conhecimento é racional e objetivo; vai além dos fatos; requer exatidão e clareza; é comunicável e verificável; depende da investigação metódica; busca aplicar as leis; é explicativo; pode fazer predições; é aberto e útil. Exemplos desse conhecimento: lei da gravidade, movimento da terra em torno do sol, circulação sanguínea, funcionamento do cérebro, etc.

 
3- SOBRE CIÊNCIA E RACIONALIDADE
 

         Com a modernidade veio a crença de que as ciências exatas seriam a única forma de racionalidade e conhecimento. Nós, homens e mulheres do século XXI começamos a questionar e a avançar os limites dessa concepção, incluindo outras formas de geração de conhecimento e visão da realidade. Hoje, temos consciência de que a ciência clássica não dá conta da complexidade de fenômenos tais como climáticos, ecológicos, psicológicos, culturais e sociais.

         Segundo Edgar Morin,  A ciência clássica se apóia nos três pilares da certeza, que são a ordem, a separabilidade e a lógica.” (MORIN, 1998). Esse autor questiona os limites da ciência clássica, entendendo que, por serem limitados, não são capazes de lidar com sistemas complexos.  Além disso, no campo das ciências sociais, onde o objeto da pesquisa tem consciência de ser objeto dessa investigação, o objetivo de separabilidade, de objetividade da ciência clássica é estruturalmente inacessível. Refletindo sobre esse tema, Morin afirma que:

Durante muito tempo, a ciência ocidental foi reducionista (tentou reduzir o conhecimento do conjunto ao conhecimento das partes que o constituem, pensando que podíamos conhecer o todo se conhecêssemos as partes); tal conhecimento ignora o fenômeno mais importante, que podemos qualificar de sistêmico, da palavra sistema, conjunto organizado de partes diferentes, produtor de qualidades que não existiriam se as partes estivessem isoladas umas das outras”. (MORIN, s/d).

         Ainda, para conhecer fenômenos complexos, tais como os fatos da vida das comunidades, dos seres humanos, temos que utilizar modos complexos de conhecimento, integrando formas diversas para delimitar o saber. A perspectiva transdisciplinar é uma via possível para a compreensão desses fenômenos. Exemplificando a questão da complexidade, LUZ (2009) estudou-a no campo da saúde pública, ressaltando a participação dos usuários desse sistema na construção do conhecimento sobre a saúde, e lembra que: 

A diferença interessante em relação a esse “modelo” [transdisciplinar] de produção de conhecimento, ou paradigma científico, é que o conhecimento assim produzido pode integrar não apenas a produção gerada a partir da pesquisa experimental, como da pesquisa quantitativa (epidemiológica, demográfica), qualitativa, e das pesquisas aplicadas, como no planejamento. Pode integrar também conhecimento gerado a partir da prática vivenciada pelas populações ou por usuários de serviços (ou pacientes), superando assim a clivagem senso comum× ciência, típica da modernidade.

         Portanto, aprendemos com Edgar Morin e outros autores a buscar outros referenciais quando pensamos em pesquisa nas áreas sociais e, particularmente, na utilização dos estudos sobre a TCI,  modos diversos de conhecimentos, tendo cada um seu próprio domínio de relevância e seu tipo de racionalidade. São todos esses olhares que vão tecendo uma imagem relevante da complexidade que a TCI encerra, e, além desta metodologia, da complexidade da sociedade, seus problemas e suas soluções.

4- TIPOS DE PESQUISA NAS CIÊNCIAS SOCIAIS

         A seguir, discutiremos os tipos principais de pesquisa e como fazem interface com a Terapia Comunitária Integrativa, entre eles: pesquisas quantitativas, qualitativas e mistas, também denominadas de triangulação. A forma qualitativa de pesquisa trás inúmeros modos de fazer e pensar o conhecimento, tais como a pesquisa etnográfica, história oral temática, estudo observacional, etc. Nos deteremos um pouco mais nos princípios da Pesquisa Ação Participante, aproximando-a  dos princípios da TCI e como  essas duas referências poderiam interagir-se mutuamente quando utilizadas na compreensão dos fenômenos sociais e na busca de alternativas integradas com a comunidade.

ñ A pesquisa quantitativa

         A pesquisa quantitativa é um método de pesquisa social que utiliza técnicas estatísticas. Estas pesquisas são mais adequadas para apurar opiniões e atitudes explícitas e conscientes dos entrevistados, pois utilizam instrumentos padronizados (questionários). Esta modalidade é utilizada quando se sabe exatamente o que deve ser perguntado para atingir os objetivos da pesquisa, permitindo que se realizem projeções para a população representada. Elas testam, de forma precisa, as hipóteses levantadas para a pesquisa e fornecem índices que podem ser comparados com outros.

         Essa modalidade de pesquisa é bem adequada ao paradigma positivista no qual prevalece a preocupação em torno da quantificação de resultados empíricos em detrimento da busca de compreensão entre a interação dos pesquisadores, dos sujeitos e situação pesquisada (THIOLLENT, 1986).

ñ A pesquisa qualitativa

         Esse tipo de pesquisa surgiu inicialmente nas áreas da antropologia e da sociologia e, nos últimos anos, ganhou espaço nas áreas da psicologia, educação e administração. Compreende um conjunto de diferentes técnicas interpretativas que visam descrever e decodificar os componentes de um sistema complexo de significados (NEVES, 1996). É centrada nas questões subjetivas que estão permeando o objeto de investigação. Busca apreender fatos não mensuráveis.

 
         De acordo com Chizzotti (1991, apud CARÍCIO, 2010) essa abordagem está fundamentada em dados inferidos nas interações interpessoais, sendo analisadas a partir do significado que os informantes (também co-participantes) emitem para elas.

         Os autores apontam três formas de pesquisa qualitativa: pesquisa documental, estudo de caso e etnografia.  Sobre a pesquisa documental, trata-se de exame de materiais que ainda não receberam tratamento analítico adequado ou que podem ser reexaminados com vistas a uma interpretação nova ou complementar (NEVES, 1996). O estudo de caso, por sua vez, é a análise profunda de uma unidade de estudo. Pode ser utilizado na compreensão de unidades tais como pessoas, instituições, situações ou fatos.

 
         Quanto ao estudo etnográfico, este tem se destacado como um dos mais importantes. Nesse método são utilizadas técnicas de observação, contato direto e participação em atividades. Na antropologia, ele tem sido utilizado nas pesquisas do século XX. Neves (1996) afirma que o paradigma etnográfico pode assumir um caráter diferenciado na medida em que esteja mais ou menos marcado, pela visão do todo e pela preocupação com o significado. O objetivo desse tipo de estudo é uma descrição de fatos, relacionamentos e dos significados produzidos pelas pessoas, permitindo uma compreensão apesar das diferenças culturais. Além disso, com a imersão do pesquisador no meio observado, vai produzir interpretações, gerando uma conscientização das pessoas incluídas, e talvez, possibilidades de ação e mudança, aproximando-se assim da pesquisa participativa.

 
         A História Oral também é uma modalidade qualitativa de busca do conhecimento. Esse tipo de pesquisa nasceu no pós guerra e ficou em evidência nos anos 60. Pode ser considerado um recurso contemporâneo usado para elaboração de documentos, arquivamento e estudo das experiências de pessoas e de grupo por meio de conversas com as pessoas que relatam suas experiências e sua memória individual. “É a historia do tempo presente reconhecida como história viva e cultiva um compromisso de registro constante que envolve lembranças, comentários, memórias de fatos e impressões sobre os acontecimentos” (CARÍCIO, 2010, pg. 60). Segundo essa mesma autora este formato de pesquisa compreende a percepção do passado como algo que tem continuidade hoje e cujo processo não está acabado.  A literatura descreve três tipos de história oral: História Oral de Vida, Tradição Oral e História Oral Temática (BOM MEIHY, 2005 apud ROCHA, 2009) 

         A Pesquisa Ação é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo (THIOLLENT, 1986). Fazemos um paralelo aqui com a Terapia Comunitária Integrativa, pois em ambas há a produção de mudanças oriundas das ações coletivas.
 
         A Pesquisa Participante é a pesquisa que se desenvolve a partir da interação entre pesquisadores e membros das situações investigadas. Pode-se entendê-la como uma pesquisa educacional orientada para a ação. É um processo de pesquisa no qual a comunidade participa na análise de sua própria realidade, com vistas a promover uma transformação social em beneficio dos participantes. Muitos trabalhos  se baseiam na pedagogia de Paulo Freire onde o processo de educar torna-se educacional e participante.  

         Segundo Thollient (1986) há uma tendência a colocar a pesquisa participante e a pesquisa ação como semelhantes. Esse autor discorda dessa similaridade e defende a idéia de serem metodologias diferentes e que a pesquisa ação seja além de participante, inclui uma forma de ação planejada de caráter social, educativo ou técnico. Na pesquisa ação os pesquisadores desempenham um papel ativo na resolução dos problemas encontrados, no acompanhamento e na avaliação. Por outro lado, outros autores denominam de pesquisa ação participante quando se imbricam as propostas de ambas. No presente texto iremos considerar o referencial dessa integração fazendo uma correlação da pesquisa ação participante e a Terapia Comunitária Integrativa. 

ñ A pesquisa quantitativa aliada à qualitativa

         Os métodos quantitativos e qualitativos muitas vezes se complementam e podem ser utilizados num mesmo estudo, a essa situação os autores denominam de triangulação. Neves (1996) afirma que esses dois métodos não se excluem mutuamente como instrumentos de análise, pelo contrário, podem contribuir em um mesmo estudo para melhor compreensão do fenômeno estudado. Os estudos demonstram que combinar os dois métodos torna uma pesquisa mais forte e reduz os problemas de adoção exclusiva de um dos métodos. As opiniões são bem diversas quanto aos dois métodos. Nas ciências sociais, por exemplo, existe uma tendência a apontar o método qualitativo como mais completo e profundo, ao mesmo tempo em que pesquisadores mais cartesianos negam a importância dos dados qualitativos. Mas, no geral defende-se que tanto um método como o outro pode ampliar a visão da realidade, independentemente de ser quantitativo ou qualitativo, podem ser bem desenhados. 

5- A PESQUISA NA TCI: COMO COMPREENDER ? 

O conhecimento sobre a Terapia Comunitária Integrativa vem sendo construído a várias mãos e tem se utilizado de várias vertentes do saber popular, filosófico e científico. A metodologia da TCI nasceu da prática, da descoberta na caminhada, na medida de seus passos. Adalberto Barreto (2008), criador dessa metodologia, partiu da situação real da Favela Pirambu-Fortaleza (CE) para, concomitantemente à prática, desenvolver as reflexões sistemáticas, que, aos poucos, foram sendo enriquecidas pelos referenciais teóricos e das correlações científicas realizadas desde então. 

Desde 1987 tem acontecido um movimento amplo de expansão dessa metodologia e suas aplicações. A cada volta dessa espiral, reflexões e aprofundamentos são realizados, alimentando a caminhada da prática e o fôlego de seus praticantes. Acredito que a realização de pesquisa na TCI, ou essa prática como vertente científica, esteja só começando.  

6- REFLEXÃO INTRODUTÓRIA ÀS PESQUISAS REALIZADAS NA TCI  

         Na seqüência, vamos apresentar alguns métodos de pesquisa que tem sido utilizados nos trabalhos e investigações científicas abordando a TCI.

         A pesquisa da Terapia Comunitária Integrativa é relativamente recente, até porque a sistematização dessa metodologia também é recente e vem sendo construída progressivamente. A proposta desse levantamento é saber como a pesquisa em TCI tem sido realizada, e quais as opções metodológicas usadas. Foram elaboradas três tabelas distinguindo as pesquisas quantitativas, qualitativas e mistas.  Na TABELA 01 são apresentados alguns estudos quantitativos que tem sido desenvolvidos na rede nacional da Terapia Comunitária.  

Trabalho /ano
Autores / objetivos
Metodologia
TC: relato da experiência de implantação em Brasília /2003
Camarotti, M H et al
Relato de experiência
Levantamento de dados
A TC no Hospital das Clinicas. Relato de experiência de humanização
2004
Oliveira, M. T., Souza, D. B. e Lopes, A.L
 
Pesquisa quantitativa através de preenchimento de Ficha de controle. Levantamento das informações aliada a uma reflexão
Avaliação qualitativa do processo de condução da terapia
Triangulação ?
O impacto da TC na Saúde
( Relatório SENAD)
2009
Barreto, A. P.
Pesquisa quantitativa dos resultados de 12.000 questionários com informações das Rodas de TC (temas mais freqüentes, encaminhamento para rede de apoio, estratégia de enfrentamento e avaliação de vínculos, pré e pós TC) 
TCI na ESF/SUS
2011
Barreto et al
Levantamento das informações oriundas da implantação da TCI na rede publica de saúde.

TABELA 01 – Algumas pesquisas quantitativas sobre TCI 

         No geral, as propostas dessas pesquisas estão em torno do levantamento das informações geradas nas Rodas de TC, sobretudo em relação aos participantes (idade, sexo), temas colocados e escolhidos, as estratégias de enfrentamento e encaminhamentos à rede de apoio. 

         Na TABELA 02 é apresentado um exemplo de pesquisa mista- qualitativa e quantitativa - denominado pelos autores de triangulação.

Trabalho /ano
Autores / objetivos
Metodologia
La therapie communautaire et le technique d´animation de groupe favorisant l´implication des patients addictifs dans le processus de changement
2010
Hugon, N.
Pesquisa quantitativa e qualitativa:
1-     Os indicadores de abandono do tratamento antes e depois da TC, estudo da variação
2-     Estudo de caso das relações intrainstitucional (pacientes/pacientes, técnicos/técnicos e pacientes / técnicos)

TABELA 02 – pesquisa quantitativa e qualitativa 

         Nesse estudo, a autora (HUGON, 2010) buscou saber de forma objetiva, através dos indicadores oficiais da Instituição, qual a mudança que a realização sistemática da TCI provocou nesses indicadores. Realmente, por se tratar de indicadores já adotados e testados pela Instituição, houve uma confiabilidade maior nos resultados, inclusive na visão da administração local em relação ao efeito da Terapia Comunitária. A autora acrescentou ao seu estudo uma avaliação subjetiva, aspecto qualitativo, compreendendo melhor o impacto das Rodas nas relações intra-institucionais.        

         Porque foi importante juntar nessa pesquisa os dados quantitativos aos qualitativos? Essa associação de métodos permitiu avançar tanto do ponto de vista institucional objetivo, quanto no aprofundamento da resposta do pessoal envolvido, dos aspectos emocionais e da percepção das pessoas em relação a essa terapia.        

         Na TABELA 03 são apresentados alguns exemplos de pesquisas qualitativas. Na sua maioria, essas pesquisas foram realizadas no período de 2005 a 2010. Nesses exemplos aqui relatados foram utilizadas várias modalidades de pesquisa qualitativa, tais como história oral temática, abordagem etnográfica, pesquisa ação, estudo transversal observacional, etc. 

Trabalho /ano
Autores / objetivos
Metodologia
Tempo de falar e tempo de escutar: a produção de sentido em um grupo terapêutico.
2005
Camargo, A. C.
Compreender a produção de sentido em um grupo terapêutico a partir das experiências dos seus participantes.
Análise qualitativa dos depoimentos sob enfoque fenomenológico
Método de análise da produção de sentido a partir de práticas discursivas (Mary Jane Spink)
Repercussões da TC no cotidiano de seus participantes
2006
Guimarães, F. J. e Ferreira Filha, M. O.
Conhecer as repercussões da TC no cotidiano dos moradores da comunidade Ambulante mangabeira, João Pessoa.
Pesquisa Qualitativa
Método de História Oral Temática, fazendo uso da técnica de entrevista para a coleta de dados, com nove participantes do grupo da TC. Análise do material empírico.
TC em cooperativa de coleta seletiva: a perspectiva feminina na economia solidária. Relato de experiência
2007
Arvati, F. Z. e Lima, J.W.G.
Investigar o impacto da TC, sob o recorte de gênero, como uma estratégia de intervenção comunitária em um ambiente de trabalho cooperativo e renda.
Pesquisa Qualitativa
Método foi Pesquisa Ação.
Análise dos dados foi realizada através de análise de conteúdo segundo referenciais de Bardin.
A História da TC na Atenção Básica em João Pessoa/PB
2008
 
(Dissertação de mestrado)
Oliveira, D. G. S.
Objetivo estudar a implantação da TC como ferramenta que vem contribuir para organização das práticas de saúde na atenção básica de João Pessoa.
 
Pesquisa Qualitativa
História Oral temática usando técnica de entrevista para coleta de dados.
SABER SER, SABER FAZER: TC, uma experiência de Aprendizagem e Construção da Autonomia
2008
(tese de doutorado)
Giffoni, F. A. O.
Objetivo de identificar até que ponto a TC vem se constituindo como um espaço no qual o diálogo e a palavra são valorizados como instrumento de transformação social
Pesquisa Qualitativa
Abordagem etnográfica com os procedimentos da observação participante, entrevistas semi-estruturadas e histórias de vida.
A TC como instrumento de inclusão da Saúde Mental na Atenção Básica: avaliação da satisfação do usuário /2009
(dissertação)
Andrade, F.B
Avaliar a satisfação dos usuários em relação a TC na Atenção Básica em João Pessoa.
Pesquisa Qualitativa
Estudo avaliativo, transversal e observacional. O instrumento de coleta de dados foi a Escala de Avaliação  de Satisfação com os serviços de Saúde Mental (Satis-Br) e questionário com perguntas complementares.
A TC e as mudanças de práticas no SUS /2009
(dissertação)
Rocha,E.F.
Objetivo de conhecer as mudanças ocorridas nos profissionais de saúde do município de Pega Fogo a partir da formação em TC e os processos dessa formação que se identifiquem com o processo de Educação Permanente em Saúde.
Estudo de natureza qualitativa em que se utiliza a História Oral temática como referencial metodológico. O material empírico  foi produzido por meio de entrevistas semi estruturadas e analisada a partir do tom vital da fala dos colaboradores com base na literatura pertinente.
Terapia Comunitária como abordagem complementar no tratamento da depressão: uma estratégia em saúde mental no PSF de Petrópolis
2010
Silva, A.L.C.
 
Pesquisa de abordagem qualitativa, realizada em 20 usuários da ESF. Utilizou-se como instrumento o questionário de inventário de Beck e o Questionário  de Eficácia da Terapia Comunitária.
TC: um encontro que transforma o jeito de ver e conduzir a vida
2010
Carício, M. R.
Objetivo de investigar as transformações produzidas na formação da TCI para ESF, destacando a importância da criação de vínculos no contexto do trabalho.
Pesquisa qualitativa, pois busca apreender fatos não mensuráveis.
Referencial metodológico da História Oral Temática. Material empírico foi produzido a partir da técnica da TC temática.
Rede de cuidado da Saúde Mental: tecendo práticas de inclusão social no Município de Campina Grande/2010
Azevedo, E.B.
Objetivo: conhecer as práticas de inclusão social desenvolvidas pro profissionais da rede de cuidado em saúde mental extra-hospitalar para pessoas em situação de sofrimento psíquico.
Pesquisa descritiva – interpretativa de abordagem qualitativa realizada em 19 profissionais. Material empírico foi colhido por entrevistas semi-estruturadas. Foi realizada análise de conteúdo tipo categorial temática de Bardin .
A metáfora na linguagem da TC: estudo de caso com pais de alunos do 1º ciclo do ensino fundamental de uma escola municipal de Ipatinga-MG /2010
Silva, M.R.G.
Objetivo de investigar se a metáfora era um dos elementos de relevância que provoca mudanças na linguagem interna das pessoas que participam das Rodas de TC.
Pesquisa qualitativa utilizando-se do método de estudo de caso dentro de uma visão estruturalista e transdisciplinar. O levantamento de dados foi feito através de entrevista semi-estruturada aplicada aos sujeitos antes e depois das rodas.
Rodas de TC: Espaços de Mudanças para profissionais da ESF/2010
Morais,F.L.S.L.
Objetivou compreender as mudanças ocorridas na dimensão pessoal e profissional dos trabalhadores da ESF com vivência nas rodas de TC
Pesquisa qualitativa
com referencial metodológico na História Oral Temática.
TC e Resiliência: histórias de mulheres
2010
Braga, L.A.V
Objetivou conhecer as experiências resilientes das mulheres que freqüentam as Rodas de TCI, identificar as fontes de forças que elas utilizam no enfrentamento de situações de sofrimento e as principais características resilientes utilizadas pelas mulheres usuárias das Rodas de TC.
Pesquisa qualitativa
Método da História Oral  fazendo usa da técnica de entrevistas para a produção do material empírico.

TABELA 03- Algumas pesquisas qualitativas 

         Observamos assim que as equipes utilizam metodologias diferentes, dependendo da finalidade da pesquisa. Nessas pesquisas, a TCI funciona como um modo de conhecimento sobre as fontes de resiliência, os resultados oriundos da participação nas rodas de TCI, nas pessoas, nos vínculos sociais, nas estratégias de intervenção social.         

         A metodologia de pesquisa tipo História Oral Temática aparece em várias pesquisas descritas na Tabela 03. Este diagrama apresentado na Figura 01[4] resume a relação entre essa metodologia e os instrumentos utilizados para captação das informações.     

         Outro dado importante que essas pesquisas revelam é sobre os próprios terapeutas comunitários, buscando entender sua visão do processo e as transformações vividas por eles. O que caracteriza nessas pesquisas é destacar os processos de mudança nos participantes ou nas comunidades. Em muitas pesquisas clássicas acontece apenas a descrição do fenômeno sem se preocupar com a transformação dos sujeitos pesquisados.
 

7- TCI E A PESQUISA AÇÃO PARTICIPANTE 

         Vamos agora dá um mergulho na relação da TCI e a Pesquisa Ação Participante.  Como entender a relação dessas duas referências metodológicas? Essa modalidade de pesquisa realmente se adéqua ao formado da TCI ?  

         Inicialmente, partiremos da possibilidade de que a pesquisa ação participante pode ser aplicada no estudo da comunidade através de uma roda de TCI. Na condução de uma roda o terapeuta comunitário tem uma metodologia a seguir, são as etapas da TCI que precisam ser cumpridas de forma a percorrer um começo meio e fim. Esse terapeuta não escolhe o tema, nem a pessoa que irá falar, por outro lado ele canaliza a sessão no sentido de fazer com que o grupo seja o foco da questão e das soluções. Ele tem constantemente que trazer as pessoas para esse núcleo metodológico de forma a facilitar a participação e fluxo da sessão. Os participantes por sua vez se tornam participantes ativos porque trazem suas questões, escolhem o tema da roda e compartilham suas experiências.        

         Quando o terapeuta qualifica a pessoa que colocou seu problema através de uma atenção focada e reforçada pela síntese restitutiva, ele está provocando uma ação de reforço a autoestima da pessoa que fala, fazendo com que facilite a sua expressão. Ao mesmo tempo esse animador da Roda, cuida para que o grupo qualifique e valorize a pessoa que fala através das escolhas, das identificações e das perguntas. 

         Ao mesmo tempo em que o terapeuta/pesquisador está levantando os problemas daquele grupo e/ou comunidade, ele está também desencadeando uma ação de melhora da autoestima, fomento da cidadania ativa e mudanças da dinâmica realcional. Esse processo de ativação da cidadania ativa se dar, por exemplo, quando as soluções partilhadas são valorizadas e reforçadas, no final da roda, nas conotações positivas. 

         Então, podemos afirmar que a Roda de TCI pode ser um campo profícuo de levantamento dos problemas das pessoas e comunidades, e  funciona pari passu como ação de transformação da realidade através das mudanças de percepção, de engajamento e de corresponsabilidade dos participantes. Outro aspecto interessante é que o terapeuta/pesquisador também se transforma, na medida que trabalha suas historias de vida e até mesmo a visão de si mesmo e das questões colocadas no grupo.      Podemos afirmar que o ambiente da TCI pode ser um espaço de levantamento dos problemas das pessoas/comunidades, ao mesmo tempo que deflagra uma transformação na direção da resolução coletiva. Todos se transformam inclusive o terapeuta, e são motivadores das transformações do outro.        

         Além disso, a metodologia da TCI inclui como etapa obrigatória a Avaliação Final de cada roda, que tem com objetivo o olhar crítico permanente sobre o processo. Essa prática pode ser vista como uma forma de pesquisa ação continuada ao longo da vida do grupo. Percebemos ainda ser uma fonte constante de conhecimentos que vão além da prática comum, quer seja sobre a postura, a prática do terapeuta ou sobre a comunidade. 

         Acreditamos que pelas evidências progressivas, que a roda de TCI pode ser vista como um espaço de pesquisa ação participante. Essa característica pode ser evidenciada no acolhimento valorizando as expressões da cultura da comunidade, com a escolha do tema pelos participantes, na elucidação do tema proposto, de modo sistêmico, com a partilha de soluções, integrando todas as formas de saberes, e também com o encerramento, onde as “pérolas”, as descobertas, são valorizadas como aprendizagem para todos. 

         Segundo Thiollent a “Pesquisa Ação é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo” (THIOLLENT, 1986, pg.14)[5]. Esse autor identifica alguns aspectos que caracterizam a pesquisa ação e que nos interessam quando pensamos sobre a Terapia Comunitária. No quadro abaixo são listados esses aspectos e comparados com os princípios da terapia comunitária (THIOLLENT, 1986, p. 16):
Metodologia da Pesquisa Ação segundo Thiollent
Metodologia da TCI
a) ampla e explicita interação entre pesquisadores e pessoas implicadas na situação investigada
Principio da horizontalidade
b) desta interação resulte a lista de prioridade dos problemas a serem pesquisados e das soluções a serem encaminhadas (…)
Escolha do tema, partilha das soluções
c) o objeto da investigação não é constituído pelas pessoas e sim pela situação social (…)
Problemas em seus contextos, em espaços públicos...
d) o objetivo da pesquisa ação consiste em resolver ou, pelo menos em esclarecer os problemas da situação observada
Problematização e partilha, resgatar os recursos locais, culturais, etc.
 
e) há, durante o processo um acompanhamento das decisões (…) de todos os atores da situação
Compromisso do terapeuta comunitário na comunidade
 
f) a pesquisa não se limita a uma forma de ação: pretende-se aumentar o conhecimento dos pesquisadores e o conhecimento ou o “nível de consciência” das pessoas e grupos considerados
Encerramento, valorização, avaliação final da roda
 


         Nessa modalidade de pesquisa e na terapia comunitária há a produção de mudanças oriundas das ações coletivas. Há que entendê-la com um modo dinâmico para uma comunidade progredir, aprender, resolver seus problemas de modo democrático, participativo, com um aumento de suas competências individuais e coletivas. O fato de o terapeuta comunitário pertencer àquela comunidade reforça os caminhos da pesquisa participante.  
         Finalmente, entendemos que existe uma estreita relação entre TCI, Pesquisa Ação Participante e a Pedagogia Paulo Freire: assim como a TCI, a pesquisa ação participante é baseada na pedagogia freiriana da autonomia. Ambas buscam o encontro entre o saber popular e científico, ambos envolvem o compromisso do ator-pesquisador na comunidade em que atua; ambos postulam a importância da co-construção de conhecimentos entre educador (terapeuta, pesquisador) e educando (participantes, comunidade). Em nossa opinião, esta origem comum explica por que o conceito de pesquisa-ação participativa é particularmente relevante no caso da TCI. 

8- PROPOSTAS PARA FUTURO DA PESQUISA NA TERAPIA COMUNITARIA: 

1)     Desenvolver a pesquisa-ação-participante âmbito da Terapia Comunitária de modo multicêntrico, coordenada por equipes de pesquisadores que tem se dedicado a essa metodologia. Esses centros poderiam desenvolver protocolos de investigação e acompanhá-los em várias regiões simultaneamente. Desta forma teríamos uma grande parceria entre a ação e a reflexão no referencial de Paulo Freire, de forma dinâmica e continuada.

2)     Desenvolver pesquisas mistas, acoplando os dados quantitativos e qualitativos.

3)     Desenvolver e socializar os instrumentos existentes no sentido de compreender melhor o impacto da TCI.

4)     Promover cursos introdutórios de pesquisa qualitativa e ação participante para os terapeutas comunitários.

5)     Aproximar os profissionais que fazem pesquisa e os que estão na prática na TCI.

6)     Revisar a Ficha das Informações das Rodas. Acreditamos que podemos obter informações mais profundas através da correlação das variáveis. Nossa sugestão é que se faça um grupo de trabalho para discutir e encaminhar propostas de ampliação do conhecimento da TCI e suas correlações com as ciências sociais.

7)     Que as reflexões sobre TCI possam avançar incluindo também o conhecimento filosófico e porque não dizer uma postura reflexiva, livre sem amarras ao mesmo tempo sistemática e transmissível.  

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[1] Neurologista, psiquiatra, mestre em psicologia, gestalterapeuta, terapeuta comunitária e formadora da Terapia Comunitária e presidente do MismecDF
[2] Medica especializada em Alcoologia, terapeuta comunitária, Diretora médica da Clinica Saint Barnabé, Marselha-Fr
[3] Movimento Integrado de Saúde Comunitária do DF - MISMECDF
[4] Diagrama cedido pela Profa. Maria de Oliveira Ferreira Filha, líder do Centro de Estudos em Saúde Mental da Universidade Federal da Paraíba.